domingo, junho 26, 2011

a chapelada

A discussão que subjaz a coisas como «Rui Tavares, devolve-me o meu voto» é tão surreal como imaginar meia dúzia de operários da construção civil, frente a uma parede por rebocar, entretidos a reinvindicar entre si os tijolos que cada um colocou. Aliás, se no Parlamento Europeu descobrem que afinal foram assim tantos os votos no Rui Tavares, ainda mandam fazer as malas ao Miguel e à Marisa.

quinta-feira, junho 23, 2011

umas contas interessantes

e perfeitamente plausíveis na conclusão a que permitem chegar…

«O Bloco de Esquerda teve 382.667 votos nas eleições para o PE; se o partido tivesse tido 379.786 votos, teria sido a CDU (com 379.787) a eleger o 3º deputado. Ou seja, menos 2.881 votos e o Bloco não teria eleito o 3º deputado (por outras palavras, bastaria que 1 em cada 125 eleitores de BE não tivesse votado assim, para que este só tivesse 2 representantes). Ora, Rui Tavares é uma figura conhecida, o ele ser candidato foi várias vezes referido na comunicação social e na campanha creio que houve alguns discursos do género "vamos ver se levamos o Rui Tavares a Bruxelas!". Assim, é bastante provável que algumas pessoas terão votado BE por lá estar o Rui Tavares; será que a hipótese de pelo menos 1 em cada 125 votantes do BE ter sido influenciado pela sua presença é assim tão descabida?
Por outras palavras, atendendo ao perfil público de Rui Tavares e à margem estreitissima pelo qual o Bloco elegeu o 3º candidato, parece-me possível que tenha sido mesmo ele a trazer efectivamente os votos que permitiram a sua eleição.»

(Miguel Madeira, Vias de Facto)

sábado, junho 18, 2011

lugares com estátuas (XIX)

José Samarago (Azinhaga do Ribatejo)

segunda-feira, junho 13, 2011

a maionese

O João Rodrigues encontrou na «salada russa» uma bela metáfora para descrever a diversidade de perspectivas que coexistem no Bloco de Esquerda. Se é verdade que esta expressão convoca muitas vezes a ideia de «miscelânea» e de «confusão», o sentido que o João lhe atribui é outro e bem mais interessante, pois sublinha as possibilidades de confluência, complementaridade e congruência entre diferentes «manières de voir» à esquerda. Partindo de considerações inscritas num post do Miguel Madeira, o João Rodrigues identifica e define três tendências: «social-democracia de esquerda», «Estado estratega» e «esquerda libertária».

Em boa verdade, estas correntes ideológicas existem no Bloco desde a sua fundação, não sendo muito difícil relacionar o grau de intensidade com que cada uma se manifesta com os partidos que lhe deram origem (PSR, UDP e Política XXI), nem assumir que todas elas têm igualmente expressão nos militantes do BE «enquanto tal», isto é, que a ele «chegam» sem estar relacionados com as forças que o constituíram inicialmente. Os doze anos de história do Bloco de Esquerda testemunham aliás como – até há bem pouco tempo – a gestão das diferentes sensibilidades tem sido, apesar de tudo, bastante conseguida (como demonstra o crescimento eleitoral alcançado até 2009).
Recorrendo à metáfora do João, pode pois dizer-se que o segredo do êxito se deve à «maionese», que foi demonstradamente capaz, durante muito tempo, de ligar bem os diferentes «legumes» que constituem esta «salada russa». Ou seja, não sendo as tendências ideológicas atrás referidas um dado novo na vida presente (e eventualmente futura) do BE, é na gestão interna do diálogo e do compromisso (a dita «maionese») que se fundou a produção de um discurso em regra coeso e consistente, capaz de permitir avanços programáticos muito significativos ao longo do tempo.

A possibilidade de entendimento, articulação e construção de um discurso unificador e comum é, desde o início, o maior desafio do Bloco de Esquerda. O momento em que o partido se encontra, marcado pelo desaire profundo das últimas legislativas (com a perda de cerca de metade do seu eleitorado, numa conjuntura que era tudo menos desfavorável à subida) obriga necessariamente a uma ampla reflexão. À luz da metáfora da «salada russa», o que está em causa é saber se a «maionese» falhou porque o Bloco atingiu um estado de maturação que não mais permite ligar os diferentes «legumes» sem uma clarificação inequívoca de trajectória (entre, se quisermos, a ideia da «esquerda grande», capaz de congregar um amplo arco de alianças à esquerda, e a ideia de uma «esquerda pequena», mas eficaz e intransigente na lógica de contra-poder). Ou, em alternativa, saber se a responsabilidade cabe essencialmente à própria «maionese», pelo facto de – no tempo mais recente – ter desencadeado uma sucessão de escolhas contraditórias entre si. Isto é, na tentativa de agradar a todas as tendências, o recurso alternante entre escolhas de sinal contrário ou de lógica desconexa, que não só corroeu as condições da coesão interna como acabou por não satisfazer verdadeiramente nenhuma (ou quase nenhuma) das sensibilidades em jogo.

A resposta a esta questão, que muito provavelmente encontrará até sentido na conjugação das duas hipóteses anteriores, é incontornável. Não adianta assobiar para o ar e esperar que a «borrasca» passe, porque a actual crise do Bloco é muito mais profunda e decisiva do que uma simples «tempestade num copo de água». Tal como não adianta tratar o assunto como se a sua raiz estivesse na questão das lideranças. Manifestamente não está e reside essencialmente, isso sim, na (des)orientação que o BE tem seguido e em práticas de construção interna das decisões que nem sempre dignificam - como se espera - o partido. Mas menos desejáveis são ainda as manifestações de «cegueira deliberada», que de forma mais ou menos subreptícia acusa os eleitores de não compreenderem a iluminada mensagem que o partido transporta gloriosamente consigo. Ou, para lá dos limites do que é democraticamente aceitável, tentar isolar e desqualificar os mensageiros, em lugar de discutir os seus argumentos.
Os «legumes» estão perfeitamente dentro do prazo de validade. A questão é, por um lado, a de saber se podem (e como podem) continuar a ser combinados de forma interessante e, por outro lado, a de averiguar o que há de errado com a «maionese» que tem sido utilizada, no intuito de descobrir o modo como esta pode (ou não) readquirir a capacidade de fazer uma promissora «salada russa».

sexta-feira, junho 10, 2011

last warning

Num texto publicado pelo Daniel Oliveira no Arrastão - que subscrevo na íntegra e que vale a pena ler até ao fim - há uma noção sobre a qual me parece existir um assinalável défice de consciência: «Os resultados das últimas eleições foram o último aviso dos eleitores do Bloco.» Não está em causa, como aliás o próprio Daniel refere, a extinção absoluta do partido. Mas está claramente em questão a existência do Bloco como o conhecemos até aqui e, sobretudo, as expectativas matriciais quanto ao lugar que lhe pode caber no horizonte da política portuguesa.

segunda-feira, junho 06, 2011

são rebentos de soja, senhor

"...cultivados na Alemanha. Ninguém me tira da cabeça que os pepinos ibéricos foram vítimas do clássico racismo alemão, uma coisa quase genética. A E. coli e a probabilidade de se ter espalhado por falta de higiene nunca podia ter origem num país onde a arrogância não tem limites. Não, não precisam de um Hitler: quem tramou os países do Sul e agora aproveita para os chupar até ao tutano não tem emenda. Nem nas bactérias."

(João José Cardoso, Aventar)