quarta-feira, maio 26, 2010

games for the season

International Philosophy: Germany vs. Greece (Mothy Python, 1982)

terça-feira, maio 25, 2010

algés

Gosto bastante do bairro onde estou agora a viver. As casas e as ruas são muito simpáticas, tendo as primeiras uma altura agradavelmente moderada e as segundas um esquadrinhado ortogonal que lhes assenta bem. Há bastantes cafés e restaurantes, que se enfileiram de onde em onde no rés-do-chão dos edifícios. Há mercearias genuinamente tradicionais e retrosarias que quase diria já não existirem a Oeste de um meridiano imaginário que passa por Coimbra. Há talhos, barbearias, lojas de pronto-a-vestir, sapatarias, oficinas, lojas com as mais variadas ferramentas e materiais de construção, quiosques de jornais, consultórios, dentistas e peixarias. Nada falta ao que um bairro assim, que quer ser mundo dentro de mundos, deve ter.
É um bairro com um traço muito particular: tem imensos idosos que ainda não são velhos (ou, melhor dizendo, velhos que ainda não são idosos). Povoam os passeios durante os dias, sempre muito aperaltados, sempre às compras, sempre a vaguear pelas ruas. Daqui a uns anos certamente deixará de ser assim, pois a autonomia que hoje têm perder-se-á com o tempo e as gerações que se lhes seguem, aparentemente menos significativas em número no bairro, não terão nem o tempo nem as condições de reforma que suportam este life style.
Só há uma coisa que me inquieta e perturba bastante: a quantidade de senhoras idosas que ainda não são velhas (ou de senhoras velhas que ainda não são idosas, como prefirirem), parecidas com a Maria Cavaco Silva. Os mesmos penteados, os mesmos vestidos, os mesmos óculos de sol que enchem meia cara, as mesmas malinhas penduradas no braço, os mesmos saltos meio-altos. O mesmo estilo, enfim (e eu sei que compreendem). Às vezes fazem lembrar aqueles filmes de ficção científica com invasões de extra-terrestres, magotes de clones dispersos, que vão discretamente tomando conta das cidades.
De resto, gosto bastante do bairro onde estou agora a viver.

domingo, maio 23, 2010

eyjafallajokull

O vulcão islandês voltou a adormecer.

segunda-feira, maio 17, 2010

uma história da música (XV)

Dire Straits (Dire Straits, 1984)

domingo, maio 16, 2010

as palavras e os actos

"Levantei vôo de Joanesburgo e aterrei directamente na glória de Portugal (...). Atraída pelo azul, desci a Avenida da Liberdade. Em cada estandarte com o nome de Bento XVI, um crente dizia-me que o pai o ensinara a escutar, acreditar, partilhar, confiar, perdoar, esperar, amar, rezar e festejar. Na verdade não sei se era o pai ou o Pai porque estava tudo em maiúsculas. Ao chegar aos Restauradores, eu continuava sem saber se quem ensinara aqueles crentes tinha sido o pai biológico, o Pai Eterno ou Bento XVI, mas estava certa de que não ensinara nada sobre sida. Depois da África do Sul, esse país em vias de desenvolvimento onde o arcebispo anglicano Desmond Tutu distribui preservativos, eis Portugal, este país desenvolvido onde os católicos são ensinados por um pai que condena o uso de preservativos, e o Estado ajuda a celebrá-lo".

(Do artigo de Alexandra Lucas Coelho, no Público de sexta-feira)

sábado, maio 15, 2010

saldanha sanches

(1944-2010)
"A sua forma algo atabalhoada, por vezes quase imperceptível, de falar, contrastava com a convicção com que defendia as suas ideias. A pacatez da sua postura física contrastava com vários relatos que ouvi de uma coragem física rara quando se tratava de enfrentar a polícia nos tempos da outra senhora. Como muitos da sua geração, renegou os ideais de revolução da sua juventude; mas contrariamente a muitos desses, nunca se entregou ao carreirismo ou ao oportunismo. O cinismo (saudável) que revelava quanto à integridade moral de uma parte muito substancial daqueles que se ocupam da coisa pública, nunca o levou a desistir de dar a cara por uma sociedade mais decente. Pertencia a uma espécie rara de liberais de esquerda, desconfiado das más utilizações que se fazem do Estado, ao mesmo tempo empenhando-se política e profissionalmente na busca de soluções concretas para combater as várias práticas (corrupção, tráfico de influências, evasão fiscal) que erodem a capacidade do Estado enquanto garante do controlo democrático dos mercados. Contribuiu como poucos para a denúncia dessa vergonhosa mega-fraude fiscal que é o offshore da Madeira e desde o início esteve ao lado da defesa da tributação das transacções financeiras internacionais."
(Da mensagem de Ricardo Paes Mamede, no Ladrões de Bicicletas)

sexta-feira, maio 14, 2010

a realidade não é de certeza

"A descida do rating da dívida pública portuguesa foi justificada com a expectativa de um fraco crescimento em Portugal por comparação com a Irlanda. Mas os últimos resultados confirmam que a economia portuguesa foi uma das que entraram mais tarde em recessão e mais cedo saíram dela, ao passo que a irlandesa não pára de afundar-se. Seja qual for a fundamentação da análise das agências, a realidade não é de certeza.
Agora, porém, o agravamento do IRS e do IVA prejudicará decerto o crescimento em 2010 e talvez em 2011. Ora, se o aumento do défice em 2009 se deveu esmagadoramente à quebra das receitas induzida pela recessão, parece claro que o crescimento é a via para voltar à situação de partida. Será mais difícil reduzir o défice em proporção do produto se ele voltar a cair este ano. Tecnicamente, a subida de impostos hoje anunciada não é defensável: com a economia a crescer à roda de 1%, o sucesso do PEC recém-aprovado estaria garantido.
O novo pacote imposto no último fim de semana a Portugal e à Espanha como contrapartida da intervenção justifica-se apenas pela preocupação de castigar os pecadores e, assim, dar uma satisfação aos tablóides alemães. Mais um exercício de política pacóvia, pois."

(João Pinto e Castro, Jugular)

quinta-feira, maio 13, 2010

cortinas

"Escrevendo acerca de Nápoles, Walter Benjamin, que era alemão e portanto do Norte, disse que nas cidades do Sul «toda a atitude e todo o acto privado são submergidos pela onda do comunitário», precisando que nestas cidades «a casa abre-se para a rua com cadeiras, fogareiro e altar» e é «muito menos o abrigo em que se entra do que o inesgotável reservatório de onde se sai». (...) Em contrapartida, escreve Benjamim, nas cidades do Norte «existir é tudo o que há de mais privado».
No anúncio de uma empresa de telecomunicações que passa cansativamente nas televisões portuguesas, há pessoas muito contentes por terem em casa, a funcionar ao mesmo tempo, todos os seus neo-electrodomésticos (...). É um não acabar de ecrãs: televisão, computador, coisinhas pequeninas (...): a rua entra em casa livremente. (...) A cortina que, nas aldeias, ainda volta discretamente ao seu lugar depois de nós passarmos, estabelece uma relação mais «napolitana» com a rua que qualquer ecrã ligado 24 horas por dia. Faz da rua e da casa os dois lados de uma mesma vida".

(Do artigo de Paulo Varela Gomes, no Público de 8 de Maio. Na mesma página, precisamente à esquerda do artigo, uma coluna de texto dava conta das "janelas virtuais" que uma empresa se encontra a produzir e que permitem substituir a "desagradável" vista de prédios ou de estradas por um ecrã digital, que pode transmitir uma paisagem ou uma cena animada, à escolha do habitante da casa. Longe de supor que o seu artigo se iria encontrar, na versão impressa do jornal, tão oportunamente acompanhado, que diria Paulo Varela Gomes desta "cortina", desta nova forma de separar a rua da casa?).

terça-feira, maio 11, 2010

o presidente que queria ser rei

No ano do centenário da República, Cavaco Silva fotografa-se publicamente com todos os seus junto a Bento XVI, no Palácio de Belém. Como se de uma família real se tratasse.