terça-feira, março 30, 2010

reveses da arrogância moral

"Até há pouco tempo, a Igreja pensou que era a guardiã da moral e queria impor os seus preceitos a todos, servindo-se inclusivamente do braço secular, ao mesmo tempo que se julgava imune à crítica. Recentemente, a opinião pública começou a pronunciar-se também sobre o que se passa na Igreja, pois todos têm o direito de debater o que pertence à humanidade comum. Há quem diga que, no caso, se trata de revanchismo. A Igreja tem dificuldade em lidar com a nova situação, mas, de qualquer modo, tendo sido tão moralista no domínio sexual, tem agora de confrontar-se com este tsunami, que exige uma verdadeira conversão e até refundação, no sentido de voltar ao fundamento, que é o Evangelho."

(Do artigo de Anselmo Borges no Diário de Notícias, via Jugular)

segunda-feira, março 29, 2010

roupa suja

"O cardeal português José Saraiva Martins, ex-presidente da Congregação para a Causa dos Santos, denunciou o que considera ser «uma conspiração» contra a Igreja Católica. «É um pretexto para atacar a Igreja», disse aos jornalistas. «Não devemos ficar demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo. É isso que acontece em todas as famílias. Não se lava a roupa suja em público.»" (Sobre as declarações de José Saraiva Martins a propósito da pedofilia na Igreja Católica, via Jugular).

Em plena quaresma, tempo de confissões, basta portanto chegar a esses guichets abertos ao público que são os confessionários e justificar, perante o sacerdote de serviço, que a impossibilidade de cumprir o dito sacramento decorre da própria recomendação de José Saraiva Martins, segundo a qual "não se lava roupa suja em público".

domingo, março 28, 2010

américas

Na foto da esquerda, um high five entre Barack Obama e Marcelas Owens, no dia da assinatura da lei da reforma que alarga o acesso a cuidados médicos a 95% da população norte-americana (Marcelas Owens perdeu a mãe aos sete anos, pelo facto de esta não ter seguro de saúde e não poder pagar os tratamentos de que necessitava). Na foto da direita, uma manifestação de opositores à reforma, republicanos, em Washington: "na América, nós não redistribuímos riqueza, ganhamo-la", diz um dos cartazes (outros iam mais longe: "se um Brown não chega para matar a reforma, que tal uma Browning?", aludindo ao nome do senador republicano do Massachusetts, incapaz de travar a reforma, e a uma das mais famosas marcas de revólveres).

sábado, março 27, 2010

tempos que correm

"Os estudantes de doutoramento da Universidade de Coimbra não podem continuar a pensar-se, e a encarar-se a si próprios, como elementos que apenas “orbitam” em redor das instituições onde estudam e investigam, isto é, como «alunos/investigadores de segunda» ou como segmento marginal, não integrante, da comunidade universitária em que se inserem. Em nome dos seus próprios interesses, a Universidade de Coimbra não pode continuar a organizar-se sem reconhecer e assumir, de forma plena, substantiva e determinada, a importância dos doutoramentos (e da investigação que se lhes associa), decisiva para que esta instituição possa enfrentar os desafios com que se depara e nos quais joga a sua capacidade de afirmação perante outras instituições, nacionais e internacionais, de ensino superior."

(Do Manifesto da Lista A à eleição do Representante dos Doutorandos ao Conselho Geral da Universidade de Coimbra, no próximo dia 30 de Março).

terça-feira, março 23, 2010

while another gets away with a thousand crimes

Luís Afonso (Público)

segunda-feira, março 22, 2010

o esgoto

Tinha como certo, até há bem pouco tempo, que duas grandes conquistas da escola e do sistema educativo nos últimos vinte anos revelavam a assumpção, pelas gerações mais novas, dos valores do ambiente e dos direitos humanos. Não duvidando, neste sentido, que a causa ecológica está de boa saúde (como demonstra a campanha de sábado), tenho contudo dúvidas sobre os avanços da sociedade portuguesa em matéria de defesa dos direitos humanos. De facto, quando vejo o esgoto em que se pode transformar o espaço reservado, num blogue, ao comentários dos seus leitores (como sucedeu a propósito deste texto de Fernanda Câncio sobre a morte de Nuno Rodrigues, assassinado em fuga por uma bala da PSP), também eu sinto medo, muito medo. Sobretudo medo de que o país que se refugia nestas caixas de comentário, para exibir alarvemente a sua barbaridade e inconsciência, seja feito não apenas das gentes saudosas do tempo de Salazar, mas igualmente de cidadãos nascidos em democracia. Um país latente que jamais perceberá uma centelha que seja da lição que centenas de pessoas deram no funeral de Nuno Rodrigues, ao optar por conter a sua legítima revolta perante as circunstâncias da morte do jovem, num gesto que é incompreensível à luz da prevalecente "imagem negativa que as pessoas têm dos bairros".

sábado, março 20, 2010

mothers of the disappeared

"A Amnistia Internacional apela ao Presidente Cubano, Raúl Castro, que garanta a segurança de um grupo de mulheres, familiares de prisioneiros de consciência, que encabeçaram a manifestação convocada na terça-feira. O apelo surge na sequência do protesto das Damas de Branco, que foi interrompido de forma brutal na quarta-feira pela polícia cubana, tendo sido imediatamente detidas algumas mulheres. Após o incidente, algumas referiram ter sido espancadas pela polícia. (...) «As autoridades cubanas têm que parar a repressão sobre os que exercem o direito à dissidência e de infligir maus-tratos sobre os que apenas clamam por justiça e liberdade de expressão», disse Kerrie Howard, dirigente do programa da Aminstia Internacional para as Américas. «Em vez disso, deveriam rever a sua legislação repressiva e libertar todos quantos foram detidos, sentenciados em vários anos por julgamentos sumários, baseados em acusações frequentemente sem fundamento»."
Pode ser significativo o tempo (mudar-se-ia entretanto de século), mas não tanto a distância que separa as razões que movem as "Mães da Praça de Maio" e as "Mães dos Desaparecidos", das razões que movem as Damas de Branco de Cuba. Videla, Pinochet e os irmãos Castro. Os extremos por vezes tocam-se.

sexta-feira, março 19, 2010

mau exemplo

"Quero também deixar aqui clara a minha discordância em relação ao comportamento de alguns dirigentes da Comissão Politica, que manifestaram o seu apoio (não individual) a Manuel Alegre ainda antes da reunião da Mesa Nacional, que aconteceu uma semana depois do candidato mostrar a sua disponibilidade de ir a votos. Cabe à Mesa Nacional tomar esta decisão (e tomou claramente, com apenas dois votos contra e oito abstenções – tem representação proporcional das várias listas que a ela concorreram). Estes dirigentes excederam as suas competências e mostraram pouco respeito por aqueles que legitimamente foram eleitos para tomar as decisões mais importantes no Partido. Estou mesmo convencido que esta recolha de assinaturas dificilmente existiria se não fosse este mau exemplo."

Não podia estar mais de acordo com este parágrafo do texto de Daniel Oliveira, que diz tudo o que é relevante sobre a controvérsia do apoio do BE à candidatura presidencial de Manuel Alegre: a expressão pública desse apoio apenas deveria ter tido lugar depois da (inteiramente legítima) decisão da Mesa Nacional nesse sentido.

quarta-feira, março 17, 2010

songs for the season

"when you expect whistles, it's flutes ■ when you expect flutes, it's whistles ■ what various paths are followed in distributing honors and possessions ■ she gives awards to some and penitents cloaks to others ■ when you expect whistles, it's flutes ■ when you expect flutes, it's whistles ■ because in a village a poor lad has stolen one egg ■ he swings in the sun ■ while another gets away with a thousand crimes ■ when you expect whistles, it's fluteswhen you expect flutes, it's whistles"
Imagem: Hieronymus Bosch, Concert in a egg (1550)

segunda-feira, março 15, 2010

opções e prioridades

O mesmo governo, no espaço de dois dias, decide que a "tributação das mais-valias só [ocorrerá] quando houver estabilidade dos mercados", ao mesmo tempo que defende que a "limitação do subsídio de desemprego [deve entrar] em vigor «ainda este ano»". Estas duas opções revelam, com suficiente clareza, o quadro de prioridades do actual executivo socialista. Tal como o revelariam, mas em sentido contrário, duas outras notícias: uma informando que "a tributação de mais-valias entra «já este ano»", e outra dando conta que "a limitação dos subsídios de desemprego só ocorrerá quando o mercado de trabalho estiver normalizado". O problema é que estas últimas são as notícias que não existem.

sexta-feira, março 12, 2010

joão

"Lembra-me, por exemplo, de que foi naquele mesmo restaurante que tive os primeiros jantares com o João, mais ou menos pela altura em que o Zé provava a chanfana. Lembro-me como se fosse hoje, posso também dizer, das intermináveis conversas que eu sorvia como se não houvesse amanhã. Lembro-me de ele fazer perguntas, de se interessar pelo que nós, uns putos, tínhamos para dizer. Acho que devo ao Tó-Zé a participação nesses jantares. Íamos para a sala do fundo, salvo erro às quartas-feiras, e saíamos de lá tardíssimo, com as injustiças do mundo por resolver, é certo, mas mais seguros do que podíamos fazer, cada um de nós e em conjunto, para lutar contra elas. Generoso como era, o João achava graça à nossa ingenuidade. E incentivava-nos a testá-la, a acreditar no que dizíamos, a experimentar aquilo em que acreditávamos. Mas não ficava só a ver. Ia connosco, aparecia, perguntava, ouvia, respeitava, participava. E tinha sempre o tempo todo para toda a gente, fazendo de cada pessoa com quem se cruzava a pessoa mais importante do mundo.
Lembram-me outros bons amigos que faz agora um ano que o João deixou de vir ter connosco. Lembro-me como se fosse hoje de onde e por quem recebi a notícia. De como ela era esperada e de como ainda assim não queríamos acreditar. Lembro-me, porque ainda hoje me custa tantas vezes acreditar e dou por mim a ter de fazer um esforço para me convencer de que não, o João não pode vir jantar ao Reis nem acabar a noite no Botânico.
Não me lembro do que comíamos naqueles jantares nem sei sequer se o João gostava, mas o que me apetecia mesmo hoje era comer uma chanfana.
Com ele."

(Obrigado Pedro, por lembrares assim este amigo e os dias que não se esquecem).

quinta-feira, março 11, 2010

songs for the cities

Lisboa (The Durutti Column, Amigos em Portugal, 1983)
Diz quem colocou o vídeo aqui (infelizmente entretanto removido) que "a música merecia melhor vídeo e a cidade também". Talvez. Mas isso não diminui o facto de a cidade merecer a música e de a música merecer a cidade.

(Para a Teresa, em dia de aniversário)

quarta-feira, março 10, 2010

socialismo invertebrado

Num debate cristalino, ouviu-se Jorge Lacão dar voz, de uma forma invulgarmente explícita, ao modo como o governo equaciona a questão das funções do Estado: "à esquerda do Partido Socialista, estes partidos [PCP e BE] ainda não perceberam que há serviços económicos relevantes que podem perfeitamente ser desempenhados, com regras perfeitamente definidas, por empresas do sector privado". Uma afirmação do Ministro dos Assuntos Parlamentares, no contexto da discussão do plano de privatizações subjacente ao PEC(*), que revela que o governo pouco terá aprendido com as falhas e equívocos deste modelo (serviços mais caros, menos acessíveis e manutenção, quando não agravamento, dos encargos para o Estado). Mas que sugere também, e sobretudo, a rendição ideológica em matéria de provisão de bens públicos, tudo devendo portanto passar a submeter-se às necessidades de cada momento. O PS converte-se assim num merceeiro sem critério nem escrúpulo, de vistas limitadas, conjunturais, que se necessário tudo trata como mercadoria, a integrar na "dinâmica de mercado" (expressão que o ministro Lacão utilizou com um ar de profunda sapiência). Um socialismo sem cerne, maleável, invertebrado.

(*) Plano que inclui a TAP, os CTT, a EDP, a Galp, a REN e as seguradoras da CGD (em 2009, os lucros da EDP, Galp e REN perfazem quase 1.400M€).

terça-feira, março 09, 2010

catch me if you can

Depois da manifestação de ignorância ("a demografia é das questões menos estudadas a nível da sociedade") e da incitação ao pânico ("somos postos à beira de precipícios cada vez mais perigosos"), começam os verdadeiros disparates ("caídos aos pés dos arautos da libertação da mulher; instituída a quase obrigatoriedade social daquela trabalhar fora de casa", "os países ocidentais vêem chegar ao seu território milhões de seres de outros continentes que estão a desfigurar as suas nações"). É então que percebemos que este é mais um daqueles jogos em que temos de encontrar a frase-chave. Continuamos a ler e prosseguem os disparates ("a demografia tem sido escamoteada com os nascimentos de filhos de imigrantes, o que não é propriamente a mesma coisa que nascerem nacionais", "tudo se faz para facilitar a dissolução do casal e o afastamento de ascendentes e descendentes", "preocupam-se em dar subsídios a quem não trabalha, a dar a mão (e seringas) a drogados"). Devemos andar lá perto... Ah, cá está ela!: "Não estamos a defender ideias racistas, mas...".

(Excertos do jogo "encontrar-a-frase-eu-não-sou-racista-mas", de João Brandão Ferreira, num Público da semana passada).

segunda-feira, março 08, 2010

god was a woman

domingo, março 07, 2010

fahrenheit 451

"Tenho ligações sentimentais ao grupo Leya (por causa d'O Independente) e ainda esta semana recebi uma proposta simpática e tentadora da Dom Quixote, que agora faz parte da Leya. Mas que posso fazer quando uma grande editora, recém-formada e sem qualquer tradição literária, transforma um livro que era caro de mais para eu comprar em pasta de papel? É de vomitar. Não podemos dar dinheiro a quem só pensa em dinheiro. José Saramago - mau escritor mas boa pessoa, na minha miserável opinião - foi enganado. Eugénio de Andrade e Jorge de Sena - um grande poeta e um génio - foram ultrajados. Desejo sinceramente que a Leya se foda."

(Da crónica de Miguel Esteves Cardoso, no Público de 4 de Março)

sábado, março 06, 2010

uma história da música (XIV)

Knife (Aztec Camera, 1984)

sexta-feira, março 05, 2010

falsas virgens

"O senhor, se fosse o actual ministro das Finanças, o que iria inscrever no PEC? ■ No PEC? A primeira coisa era um plano de reformas que nunca foram feitas. Da justiça, da educação, da democracia, da anti-corrupção, do arrendamento... todas as reformas que são absolutamente essenciais para que a nossa sociedade seja minimamente atractiva (...). Porque ninguém quer investir em Portugal, onde os tribunais demoram um tempo que ninguém imagina, onde a burocracia é mais que muita, onde a corrupção parece que não existe mas é mais que muita. Onde o arrendamento não funciona (...). Portanto, tudo isto são obstáculos a que a economia funcione e a que haja quem queira investir (...). O sistema produtivo é uma mentira, forma-se uma pequena camada de gente capaz e os filhos das famílias mais desprotegidas estão liquidados no seu futuro (...) ■ O sôtor acha que as escolas têm estado a formar analfabetos? ■ Sim, praticamente, enfim, exagerando esta expressão, «analfabetos», é o que têm estado a fazer...".
Excerto da Grande Entrevista de Judite de Sousa a Medina Carreira. A pergunta concreta da jornalista era sobre as medidas que integraria no PEC. A vacuidade das respostas é o que se pode ler. Trata-se apenas de um excerto, mas toda a entrevista segue basicamente esta lógica. Medina Carreira é isto. Uma combinação de frases de diagnóstico vulgar, ditas num tom apocalíptico, com propostas nada concretas. Ou, quando concretiza, Medina Carreira é guiado pela cartilha única do corte na despesa pública (a dado passo da entrevista diz: "estive a fazer as contas (...) e nós vamos ter que retirar ao pessoal e às prestações sociais mil e trezentos milhões por ano"). Não lhe ocorrem portanto soluções alternativas (como estas, entre outras). Apenas medidas que permitam pulverizar as políticas sociais e cercear a acção do Estado. Nesse objectivo, aliás, não se acuse Medina Carreira de incompetência, como deixa a entender Medeiros Ferreira, a propósito de Cabora Bassa.

quinta-feira, março 04, 2010

sobressaltos

Século XXI. Portugal. A Ministra da Cultura de um governo socialista decide criar uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura. Com o pretexto de que se trataria de uma tradição cultural portuguesa a preservar.

"Anote-se o seu nome, porque ele ficará nos anais das costas largas que a «cultura» tinha no século XXI em Portugal: Gabriela Canavilhas. É esse o nome que assina o ominoso despacho publicado ontem no DR criando uma «Secção de Tauromaquia» no Conselho Nacional de Cultura. Ninguém se espante se, a seguir, vier uma «Secção de Lutas de Cães» (...) ou outras respeitáveis tradições culturais que, como a tauromaquia, há que «dignificar». O património arquitectónico cai aos bocados? A ministra foi ali ao lado "dignificar" as touradas. (...) O teatro, o cinema, a dança, morrem à míngua? (...) A ministra foi aos touros e grita "olés" e pede orelhas e sangue no Campo Pequeno."
(Manuel António Pina, via Jugular, via O Homem que sabia demasiado)

"Também era da tradição, em Portugal por exemplo, executar em público os condenados, bater nas mulheres, escravizar pessoas. Foi assim durante milénios. Ninguém via mal nenhum nisso a não ser, confusamente, com dúvidas, as próprias vítimas. Até que a piedade, na sua interpretação moderna e laica, acabou com tão veneráveis tradições. Que será preciso para acabar com a tradição da tourada? Que sobressalto do coração será necessário para despertar em nós a piedade pelos animais?"
(Paulo Varela Gomes, no Público de 27 de Fevereiro, artigo que vale a pena ler na íntegra)

quarta-feira, março 03, 2010

cidades com estátuas (XXI)

A pastorinha Jacinta, que até se poderia ter tornado numa moça bem jeitosa. Assim a tivessem deixado medrar.

terça-feira, março 02, 2010

fazer o bem

"Há algo de fascista em ir para a rua lutar não pelos nossos direitos, mas contra os direitos dos outros. E definitivamente houve algo fascista na manifestação lisboeta pela "família verdadeira". PNR? Acção Nacional? Bandeiras negras? Acusar os homossexuais da "destruição sistemática da sociedade"? Não soa a nada? Esqueceram-se de como Hitler tratou do assunto? (...) Mas não sei o que é pior, se a organização ter acolhido um punhado de neonazis, se aqueles milhares de pais extremosos com os filhos às cavalitas, certamente convencidos de que não estavam a fazer mal a ninguém, deus os livre. (...) Impedir que os outros tenham direito ao que nós temos é fazer o bem? (...) Quem vos dá o direito de dizer à sociedade o que ela deve ser?, quem vos dá o direito de dizer à sociedade que ela seja o que já não é?, quem vos dá o direito de dizer à mãe de um homossexual que a família dela não é verdadeira? Deram-se ao trabalho de pensar no que mães, pais, filhos ou avós de homossexuais sentem ao ler os vossos cartazes? Não vêem a arrogância disto? A violência?"

(Do artigo de Alexandra Lucas Coelho, no Público de 26 de Fevereiro)

segunda-feira, março 01, 2010

boa noite e boa sorte

"A nossa história será aquilo que fizermos dela. (...) Sonhemos a ponto de dizer que num dado serão de domingo, um espaço de programação normalmente de Ed Sullivan é cedido a uma pesquisa científica sobre o estado da educação americana. E que, uma ou duas semanas depois, um espaço normalmente ocupado por Steve Allen é inteiramente atribuído à análise da política americana do Médio Oriente. (...) Àqueles que afirmam: «as pessoas não viam, não estão interessadas, são demasiado complacentes, indiferentes e isoladas», só posso responder que há, na opinião deste vosso repórter, provas consideráveis que desmentem esse argumento. É que se têm razão, e este instrumento não serve senão para entreter, divertir e isolar, então o televisor corre sérios perigos e em breve constataremos que toda a batalha está perdida. A televisão pode ensinar. Pode esclarecer e, inclusivamente, inspirar. Mas só o poderá fazer se os seres humanos quiserem usá-la para esse fim. Caso contrário é uma amálgama de fios e luzes... dentro de uma caixa. Boa noite, e boa sorte."

Do discurso de Edward Murrow (David Strathairn), no final de Good Night and Good Luck (George Clooney, 2005). Sobre a boa política e o bom jornalismo, no vazio e no jogo de espelhos dos tempos que correm.