quarta-feira, dezembro 29, 2010

jogo de espelhos

Claramente o PSD convenceu-se que depois do fraco apoio recebido pelo seu novo credo neoliberal (como mostraram as reacções ao seu projecto de revisão constitucional), o melhor meio de conseguir os seus objectivos seria por via de uma crise orçamental, que obrigasse à vinda do FMI e à imposição por via externa de um programa assassino de redução da despesa pública e de corte nos serviços públicos, incluindo na saúde, na educação e na protecção social, ou seja os três pilares do Estado social.
(Vital Moreira, Público)

Vital Moreira analisa de forma particularmente clara e certeira a trajectória errática do PSD, sublinhando o taticismo eleitoralista que tem norteado o partido nos últimos tempos, a propósito da novela da aprovação do orçamento de Estado para 2011.
O que surpreende neste artigo, contudo, é a idêntica clareza com que supostamente se poderiam distinguir, segundo o autor, as medidas do governo relativamente ao projecto ideológico do PSD. Existirá uma separação assim tão cristalina entre as opções governamentais e os anseios do maior partido da oposição? Não constitui o OE de 2011 em si mesmo, pelas escolhas que encerra, e aprovado para todos os efeitos “a meias”, «um programa assassino de redução da despesa pública e de corte nos serviços públicos, incluindo na saúde, na educação e na protecção social, ou seja os três pilares do Estado social»?
Se em tempos de crise é este o rosto da identidade ideológica da “esquerda moderna” (que Vital Moreira tanto gosta de contrapor à “esquerda radical”), por será que o mesmo se confunde tão facilmente com os eixos programáticos da “direita neoliberal”?
 
(Postado originalmente no Ladrões de Bicicletas)