sexta-feira, dezembro 31, 2010

o jogo absurdo

"Ao longo de 2010 fomos assistindo a sucessivas - e por vezes entusiásticas - declarações de apoio de responsáveis europeus aos 'heróicos' esforços dos países periféricos para pôr as suas finanças públicas em ordem. A Europa parece finalmente ter encontrado a sua vocação: coloca-se fora do jogo que os periféricos travam com os mercados, mas aplaude e dá todo o apoio moral. É bonito, sim senhor, mas não chega. Em vez de se comportar como uma espécie de cheerleader, a UE podia, de facto, tentar ajudar. Como? Sendo coerente com as suas declarações, isto é, usando o seu poder para garantir que, enquanto os países em dificuldades forem cumprindo o acordado, estes têm todas as condições para realizar os ajustamentos necessários sem pressão adicional e contraproducente dos mercados. É que, ao contrário do que Merkel e companhia julgam, os mercados não estão a disciplinar ninguém; estão a tornar a vida dos periféricos impossível. Os líderes europeus bem podem ir dizendo que os mercados não estão bem a ver a coisa, mas, enquanto estes insistirem em ignorar os louvores dos primeiros, esse 'apoio' não passa de uma farsa. E esta farsa só não se transforma numa tragédia porque o BCE age (ou melhor, é forçado a agir) como bombeiro, com sucessivas intervenções in extremis que vão permitindo que este jogo absurdo continue a ser jogado."

(João Galamba, Jugular)

quinta-feira, dezembro 30, 2010

vídeo do ano

quarta-feira, dezembro 29, 2010

jogo de espelhos

Claramente o PSD convenceu-se que depois do fraco apoio recebido pelo seu novo credo neoliberal (como mostraram as reacções ao seu projecto de revisão constitucional), o melhor meio de conseguir os seus objectivos seria por via de uma crise orçamental, que obrigasse à vinda do FMI e à imposição por via externa de um programa assassino de redução da despesa pública e de corte nos serviços públicos, incluindo na saúde, na educação e na protecção social, ou seja os três pilares do Estado social.
(Vital Moreira, Público)

Vital Moreira analisa de forma particularmente clara e certeira a trajectória errática do PSD, sublinhando o taticismo eleitoralista que tem norteado o partido nos últimos tempos, a propósito da novela da aprovação do orçamento de Estado para 2011.
O que surpreende neste artigo, contudo, é a idêntica clareza com que supostamente se poderiam distinguir, segundo o autor, as medidas do governo relativamente ao projecto ideológico do PSD. Existirá uma separação assim tão cristalina entre as opções governamentais e os anseios do maior partido da oposição? Não constitui o OE de 2011 em si mesmo, pelas escolhas que encerra, e aprovado para todos os efeitos “a meias”, «um programa assassino de redução da despesa pública e de corte nos serviços públicos, incluindo na saúde, na educação e na protecção social, ou seja os três pilares do Estado social»?
Se em tempos de crise é este o rosto da identidade ideológica da “esquerda moderna” (que Vital Moreira tanto gosta de contrapor à “esquerda radical”), por será que o mesmo se confunde tão facilmente com os eixos programáticos da “direita neoliberal”?
 
(Postado originalmente no Ladrões de Bicicletas)

sexta-feira, dezembro 24, 2010

vésperas de natal

"Na Irlanda, o Estado gasta 3,7 mil milhões de euros dos contribuintes para cobrir os prejuízos da irresponsabilidade privada. (...) Em Portugal, uma agência de ranting volta a cortar na cotação da dívida portuguesa. Apesar de todos os disparates que estas agência já fizeram sem que ninguém lhes tivesse pedido responsabilidades, os especuladores continuam a ligar ao que elas dizem. (...) Na Grécia, o Parlamento aprova um orçamento suicidário que estrangulará a sua própria economia e tornará a recuperação ainda mais distante. Querem poupar 14 mil milhões e para isso aumentam impostos e cortam salários de forma selvagem. (...) E para terminar o dia com uma imagem que ilustre tudo isto, um homem atira-se das galerias do parlamento romeno, em protesto contra as medidas de austeridade decididas pelo governo.
(...) 23 de Dezembro de 2010. Guardem este dia, em vésperas de Natal, para memória futura. Dele se dirá que era mais um dia de uma Europa à deriva, liderada por gente cega, incapaz de perceber que não era apenas a economia europeia que matavam. Era a própria Europa como projecto político
"

(Daniel Oliveira, Arrastão)

domingo, dezembro 19, 2010

a crise da competitividade

"Não admira que em Portugal os principais grupos económicos se encontrem sistematicamente nos sectores da banca (BES, BPI, BCP, etc.), da grande distribuição (Jerónimo Martins, SONAE), da Construção (Mota-Engil, Teixeira Duarte, etc.), das telecomunicações (PT), da energia (EDP, GALP) ou das concessões (BRISA e muitas das empresas atrás referidas) – ou seja, em sectores que se alimentam do escasso mercado nacional – e raramente em sectores fortemente expostos à concorrência internacional. Isto, claro está, diz-nos muito não apenas sobre as opções políticas dominantes, mas também sobre o espírito empreendedor do capitalismo nacional."

(Da excelente sinopse sobre a evolução recente da economia portuguesa, a ler na íntegra, de Ricardo Paes Mamede, no Ladrões de Bicicletas).

sexta-feira, dezembro 17, 2010

se os mercados financeiros fossem pessoas de bem...

...isto era suficiente para andarem bem dispostos.

sábado, dezembro 11, 2010

para uma nova economia

"A crise em que nos encontramos abre caminho a que se equacionem no desenho de futuras estratégias de desenvolvimento as potencialidades de inovação em matéria de economia social e desenvolvimento local bem como se encarem reformas do conceito de empresa, generalizando as tradições de participação de todos os seus actores na gestão, tal como acontece em muitas economias avançadas, de modo a nela incorporar as exigências que decorrem de uma maior democratização da economia.
(...) A responsabilização dos representantes nacionais nos órgãos comunitários, em especial no Parlamento Europeu, e a sua ligação reforçada às instituições democráticas nacionais, deverá permitir uma atempada participação em matéria de política económica e contribuir para afastar o fatalismo que tem prevalecido acerca das decisões de Bruxelas, aceites sem discussão e que tantas vezes têm acarretado efeitos desastrosos."

Da Petição para Uma Nova Economia, lançada recentemente pelo Grupo "Economia e Sociedade", da Comissão Nacional Justiça e Paz, que pode ser lida na íntegra e subscrita aqui.

domingo, dezembro 05, 2010

tempo para pensar

"O BCE resolveu comprar títulos de dívida dos Estados da zona euro. Finalmente os mercados «acalmaram». Foi com um banco central a comprar títulos de dívida que as grandes zonas monetárias se constituíram. A começar pela dos EUA. A história da Moeda devia ser obrigatória nos conselhos europeus. À hora das sandes. Assim temos um espaço de tempo para se pensar melhor nas soluções governativas."

(José Medeiros Ferreira, Córtex Frontal)